quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Bater panela na janela pode resolver os problemas de um país do tamanho do Brasil?

Compartilho o oportuno artigo de Marc Tawil (@marctawil), sobre os costumeiros panelaços no Brasil, incluindo o mais recente, dessa terça-feira à noite. Confira:

Aconteceu de novo. Durante o programa partidário do Partido dos Trabalhadores, ontem, por volta das 20h30, uma multidão indignada foi à janela bater panelas e gritar palavras de ordem contra Dilma Rousseff, seu predecessor Luiz Inácio Lula da Silva, e o PT. A queixa ruidosa, legítima e democrática, aconteceu em dezenas de bairros, nos quatro cantos do País.

Era, é bem verdade, a crônica de um barulho anunciado.

Assim que se soube que Lula participaria do programa, a internet se encarregou de organizar o protesto, fosse pelas redes sociais, WhatsApp ou e-mails.

Na zona oeste paulistana, nessa mesma hora, tentando fazer a minha filha de dois anos dormir, me questionei – como fiz em outros panelaços – se este tipo de manifestação realmente tem algum efeito prático.

Como essa bateção de panelas ecoa nos corredores do Palácio do Planalto? Algum político se sensibiliza realmente com este tipo de sinal? Qual a consequência efetiva desse movimento todo?

Quem protesta diz que a manifestação é pacífica e, embora seja individual, contagia e leva à ação coletiva no médio e no longo prazo.

Quem critica os paneleiros ressalta a comodidade de quem não se dá ao trabalho de sair às ruas e uma elitização ou “gourmetização” dos protestos.

O panelaço, que ganhou força em 8 de março do ano passado, Dia Internacional da Mulher, quando Dilma Rousseff foi à TV, em rede nacional, fez pelo menos uma vítima: a própria presidente, que desde então decidiu aparecer bem menos – e basicamente tem-se pronunciado à massa via internet.

Aumentou, ainda, o engajamento de personalidades às causas da oposição.

Ontem, diga-se, Dilma também foi ausência sentida no programa do PT. Mas isso é outra conversa.

É inegável que estamos diante de um novo fenômeno social e, como tal, não se pode dimensionar hoje como vão reverberar os protestos no futuro.

Meu ponto, como está no título, é: bater panela na janela pode resolver os problemas de um país do tamanho do Brasil? Apesar de não ter ajudado a eleger o governo que aí está, acredito que, da forma como o panelaço acontece, não. Bater panela ainda é menos efetivo que fiscalizar vereadores, denunciar desvios em órgãos competentes, entrar com representações na Justiça, ajudar uma ONG e, claro, resolver essa questão nas urnas.

Porém, como também disse lá em cima, é legítimo e democrático.

Há três anos, quando milhões de brasileiros estiveram nas ruas no histórico junho 2013, a chama da mudança estava altíssima. O “gigante despertara”. Mas...

Além de uma recessão profunda, desemprego em alta, embates políticos, 23 fases da Lava-Jato, um Eduardo Cunha incaível no Congresso, e uma inflação de dois dígitos, o que mudou de lá para cá? Nosso lampejo de Primavera Árabe resultou em quê?

Paneladas históricas

Embora nossa memória insista em nos sugerir que as panelas estridentes nasceram nos cacerolazos argentinos, a partir de 1996, a bateção começou bem antes, em 1971, no Chile, com a Marcha das Panelas Vazias, realizada contra Salvador Allende.

Radicado em Buenos Aires, Ariel Palácios, correspondente de O Estado de S. Paulo e do canal GloboNews, viu de perto os cacerolazos.

Lá, diz ele, também existe a modalidade “panelaço de varanda”, mas há maior politização por parte dos envolvidos. “As pessoas sabem exatamente por que estão protestando. Não tem oba-oba”, diz o jornalista.

Já aqui...

Artigo de Marc Tawil - Creative Director and General Manager at Dialoog Comunicação

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